domingo, 29 de setembro de 2013

OBRAS COMPLETAS DE RATZINGER EM ESPANHOL

Nós não temos essa graça (por falta de boa vontade/coragem editorial brasileira, diga-se). Mas há pelo menos três países que estão publicando a Opera Omnia de Joseph Ratzinger: Alemanha (Herder), Itália (Libreria Editrice Vaticana) e Espanha (Biblioteca de Autores Cristianos). Esta última já publicou dois volumes. Coloco o link espanhol aqui pois é a língua mais próxima, se assim posso me expressar, do português. Veja o plano geral a obra a seguir:



O Diretor da BAC, o Pe. Carlos Granados, que aparece na foto acima à esquerda, explica longamente o projeto editorial na entrevista seguinte:


Quem sabe um dia veremos a obra toda em português? Ou aqui só se publica Pagola e outros livros do gênero? Livros de sólida doutrina não vendem no Brasil? No que me conste, a Distribuidora Loyola vende os livros da BAC. Um consolo. 

Carta de Bento XVI ao matemático Piergiorgio Odifreddi. Um diálogo aberto

O respeito do interlocutor é medido pela capacidade de escuta. Quanto mais minuciosa é a atenção que é dedicada às palavras que nos são dirigidas, mais o debate se torna diálogo. Atitude, esta, que só se torna construtiva na medida em que é genuinamente recíproca.
A reportagem é de Giulia Galeotti, publicada no jornal L'Osservatore Romano, 25-09-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Tempo atrás, Piergiorgio Odifreddi enviou a Bento XVI o seu livro Caro Papa, ti scrivo (Milão: Mondadori, 2011). E o papa emérito lhe respondeu com uma longa carta, que o jornal romano La Repubblica do dia 24 de setembro antecipa em parte (pouco menos da metade), enquanto o texto integral será publicado na nova edição do livro de Odifreddi.
Joseph Ratzinger se desculpa pelo intervalo de tempo decorrido entre a recepção do livro e a sua réplica, datada de 30 de agosto de 2013 e endereçada à residência turinense do cientista. Um intervalo de tempo certamente não imputável aos 698 quilômetros de distância entre o mosteiro no Vaticano e a casa do matemático, no verde da cidade de Savoy, mas devido à atenção que, entre os seus muitos compromissos, Bento XVI quis dedicar ao volume.
Joseph Ratzinger é preciso e acurado. Na longa carta – que revela uma gentileza natural, uma mão estendida não formalmente ao seu interlocutor –, Bento XVI vai direto ao ponto das páginas lidas, dos traços de proximidade colhidos pelo cientista ateu e compartilhados pelo papa teólogo, dos pequenos (e nem tão pequenos) erros presentes no texto, detendo-se portanto – com a experiência que lhe é reconhecida até mesmo pelos adversários – tanto nos pontos de encontro, quanto nas discrepâncias, resumíveis, estas últimas, em uma tripartição.
Algumas delas são aceitáveis em uma ótica de confronto entre posições que são, e continuam sendo, diferentes; outras, não aceitáveis, por serem injuriosas (mesmo quando formuladas, com habilidade, apenas como perguntas); outras, enfim, nada convincentes.
Tudo, porém, sempre em um tom de autêntica busca de diálogo, no respeito e na estima pelo interlocutor. Em um percurso que parte das Escrituras sagradas ao judaísmo e ao cristianismo, atravessa a história, chegando até os dias, também sofridos, da Igreja de hoje, não esquecendo nem os aspectos mais bonitos e fecundos, nem os mais mais terríveis e escandalosos.
Piergiorgio Odifreddi contesta – rotulando-o como distinção já ultrapassada desde o distante 1968 em virtude da entrada em cena das inteligências artificiais – o fato de que uma razão objetiva sempre precisa de um sujeito, uma razão, portanto, consciente de si mesma. Pois bem, com precisão, Bento XVI rebate explicando como, na realidade, é justamente (e também) a própria inteligência artificial que demonstra o assunto, tratando-se de uma inteligência confiada a aparelhos e transmitida a eles por sujeitos conscientes, isto é, atribuível à inteligência humana daqueles que criaram os mesmos aparelhos.
Esse é apenas um dos muitos pontos analisados na longa, rica, apaixonada e nítida carta de resposta por parte de um homem que quer – e que, por toda a sua vida, sempre quis – um verdadeiro diálogo entre a fé dos cristãos e a fé científica. Uma busca de diálogo evidentemente captada pelo matemático italiano.
Além disso, lendo todo o texto do papa emérito, fica claro como o seu interesse é autêntico, voltado a dialogar até com aquela parte de mundo e de fé científica que, a bem ver, interrompe a busca do confronto de maneira que acaba sendo dogmática, quase como se não quisesse mais perguntar, mas somente amestrar o interlocutor.
Os muitos exemplos que poderiam ser trazidos à tona entre aqueles apresentados por Bento XVI, porém, giram inevitavelmente em torno daquilo que, para Joseph Ratzinger, é o ponto central, que não pode ser ignorado, do diálogo entre a fé chamada científica e a fé dos cristãos. É o aspecto da passagem dos lógoi ao Logos, uma passagem que a fé cristã fez juntamente com a filosofia grega. Uma passagem que pode até não ser feita, mas que deve, necessariamente, ser considerada e avaliada – de modo científico, se deveria dizer – para que as partes em diálogo permanecem ambas realmente em busca.
Na carta, também são evocadas a questão muito debatida dos antropomorfismos – para a qual Bento XVI recorda a validade permanente da afirmação do Concílio de Latrão IV de 1215 sobre a possibilidade somente analógica de pensar Deus – e a questão incandescente da evolução.
Bento XVI cita o Pseudo-Dionísio, o Areopagita, e depois cita não só Francisco, Clara, Teresa de Ávila e Madre Teresa, mas também Agostinho, Martin Buber, Jacques Monod e a inspiração da música de Bach, Mozart, Haydn,Beethoven. E, claramente, cita Piergiorgio Odifreddi.
Porque Ratzinger optou por responder a um professor universitário italiano que, movido pela franqueza, buscou um diálogo aberto com a fé da Igreja. Entre contrastes e convergências.



quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Introdução ao Espírito da Liturgia (1)

Quando eu penso que no Brasil não vai sair mais nada de Ratzinger, as Edições Loyola publicam "Introdução ao Espírito da Liturgia". Nesse livro, o tradutor valeu-se da edição italiana e não da alemã, ao contrário da edição portuguesa. Depois farei alguns breves comentários sobre algumas deficiências notórias da tradução lusitana. Por enquanto, só faço a apresentação desta.

Ratzingerianos do Brasil, uni-vos!

Nasce hoje o "Ratzinger Brasil".

Pensei em diversos nomes para este blog. Mas se impôs a mim a necessidade de criar um espaço onde eu pudesse expôr permanentemente tudo o que vou encontrando em minhas pesquisas de e sobre Bento XVI-Joseph Ratzinger (especialmente o que é publicado em língua portuguesa, tanto no Brasil quanto em Portugal).

Fiz questão de colocar o nome de nosso país para estimular a união de todos aqueles que em terras brasileiras se identificam com o pensamento, ou melhor, com a teologia de J. Ratzinger ou que foram particularmente confirmados na fé pelo magistério de Bento XVI. 

Mas que tipo de união eu tenho em mente?

Inicialmente, são três os objetivos: 

1) partilha de livros e artigos digitalizados de Ratzinger; 
2) informar sobre as publicações de e sobre Ratzinger-Bento XVI, resgatando obras passadas e ir dando notícia de lançamentos;
3) disponibilizar links de artigos, comentários e quaisquer outros materiais sobre o nosso autor.

Tudo, prioritariamente, em língua portuguesa. Não excluindo informações relevantes em outro idioma.

Por isso, aos leitores, eu peço: o que acharem de interessante, enviem-me.

Mas adiante, penso em começar a criar uma lista de membros, a fim de criar algo como um Círculo de Estudos em torno do pensamento de Ratzinger.... Quem sabe....

Enfim, esses são os meus objetivos. Eu só quero ser um colaborador do Colaborador da Verdade (Cooperatores Veritatis). Para muitos, pode parecer uma iniciativa tardia. Afinal, Bento XVI já renunciou. Ele deixou o papado, mas o seu pensamento não perdeu em atualidade, nem em brilho. Infelizmente, as pessoas de nosso tempo ainda  não o entenderam plenamente... 

Termino com um frase de Nietzsche, na qual está falando de si mesmo, mas que eu atribuo a Bento XVI:

Os maiores acontecimentos e pensamentos – mas os maiores pensamentos são os maiores acontecimentos – são os que mais tardiamente são compreendidos: as gerações que lhe são contemporâneas não vivem tais acontecimentos – sua vida passa por eles. Aqui acontece algo como no reino das estrelas. A luz das estrelas mais distantes é a que mais tardiamente chega aos homens; e, antes que chegue, o homem nega que ali – haja estrelas. “De quantos séculos precisa um espírito para ser compreendido?” – esta é também uma medida, com ela se cria também uma hierarquia e etiqueta, como é preciso: para espírito e estrela.” (Além de Bem e de Mal, 285).


A Filha de Sião

O livro que lhes apresento saiu recentemente pela Paulus (2013). Até agora a edição disponível numa língua mais próxima da língua portuguesa era a italiana. Havia uma tradução para o espanhol, da argentina, de 1993, de uma editora chamada Estrella de la Mañana, mas muito difícil de encontrar. Curiosamente, esse livro jamais foi traduzido para a Espanha, que tem quase tudo de Ratzinger traduzido e disponível em seu mercado editorial. 


Ratzinger mostra desde o começo que os fundamentos da fé mariana estão na Sagrada Escritura enão fora dela, como no Culto da Grande Mãe. Nesse sentido, ele já começa contrapondo-se a Hans Küng.